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Adolescente resgatada em Terra Yanomami era obrigada a fazer 16 programas por noite

PF investiga a organização criminosa envolvida na cooptação de mulheres e adolescentes para se prostituírem nos garimpos de Roraima
Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Após ser levada para se prostituir em garimpos, a adolescente de 15 anos resgatada pela Polícia Federal em Terra Yanomami era obrigada a fazer até 16 programas por noite, conforme relatou a vítima ao conselheiro tutelar Franco Rocha, que acompanha o caso junto à PF.

A garota contou que foi levada ao garimpo com uma promessa de trabalhar como cozinheira, mas, ao chegar na região, foi obrigada a se prostituir. A menina foi resgatada pela PF durante um patrulhamento noturno no Rio Mucajaí, na Terra Indígena Yanomami.

O conselheiro destacou que “Ela falou que, enquanto estava lá, passava a noite inteira sendo explorada. Geralmente eram de 15, 16 programas por noite”. A jovem estava na região de Walopali, onde há um ponto de fiscalização da PF contra os garimpeiros, mas foi atraída pelas redes sociais com a promessa de receber até R$ 5.800 por mês. O pagamento seria em ouro ou dinheiro.

Franco, que ouviu a menina após o resgate, diz que “Ela ficou animada pela quantidade de dinheiro. Eles foram buscá-la na casa dela, aqui em Boa Vista, em um carro super luxuoso. Inicialmente, ela ficou confiante que ia trabalhar na área da cozinha e que eles iam pagá-la. Quando chegou ao local, a realidade foi outra. Eles a obrigaram a ir para os cabarés, inúmeros, lá dentro. E se ela não fosse, iriam deixá-la rodada, como costumam dizer. Não iria pagá-la e ainda corria o risco de ser assassinada porque eles a ameaçaram de morte. Então, ela não teve outra alternativa”, relatou Franco.

No barco abordado pela PF, os agentes identificaram que outras mulheres, inclusive a garota, tinham sido cooptadas por agenciadores para se prostituírem no garimpo. A adolescente havia sido dada como desaparecida pela família e, na abordagem, a PF identificou o B.O. que comunicava o sumiço da menina. Além das violências sofridas pela menina, a PF investiga a organização criminosa envolvida na cooptação de mulheres e adolescentes para se prostituírem nas áreas de garimpo de Roraima.

O delegado responsável pelo procedimento de resgate da menina, Marco Bontempo, disse à imprensa que esta foi a primeira vez que ficou tão evidente a logística utilizada para exploração sexual na Terra Yanomami: “Existe um esquema logístico dentro do garimpo que passa pela etapa de cooptação dessas jovens, por rede social e outros meios, até o transporte delas de barcos ou aéreo”, disse ele, acrescentando que “A PF já tinha conhecimento de “cabarés” no garimpo, mas essa é a primeira vez que identificam uma logística tão estruturada, e que é uma das logísticas que mantém o garimpo”, disse o delegado.

Ameaças e fuga
Franco disse que a menina relatou que era constantemente ameaçada e caso ela decidisse sair do território sem a autorização, não receberia nada em dinheiro, o que ocorreu: “No caso dela, ela ficou por mais de um mês, foi ameaçada para que não procurasse a polícia, se não, eles sabiam onde ela morava e iriam executar ela e a família”, disse Franco.

O conselheiro afirma que a menina contou ter visto várias outras adolescentes, também vítimas de prostituição: “Quando ela chegou lá, viu que tinham várias outras adolescentes, de 15, 16, 17 anos. E, em determinando momento, eles retiram essas adolescentes dos cabarés e encaminham para outros cabarés, como se fosse um rodízio. Lá elas são ameaçadas constantemente, e eles falam que só vão receber no final, quando voltar”.

Ela, segundo Franco, só conseguiu sair da região com ajuda de um barqueiro, a quem ela pediu carona. A menina foi ouvida pela PF e Conselho Tutelar ainda na madrugada da última terça-feira, 14, quando foi resgatada.

Agora, o Conselho vai encaminhá-la para atendimento psicológico e atuar para garantir a proteção, como fazer a matrícula dela em escola, e encaminhar ela e a família para algum projeto social e de renda: “Vamos aplicar as medidas de proteção que são: requisitar uma vaga escolar, oportunidade de projeto social, requisitar atendimento psicológico para adolescente e para a família, requisitar benefícios, averiguando a situação socioeconômica da família, porque ela disse que teve que ir porque chegava a faltar alimento em casa”, pontuou o conselheiro.

Durante o período de cerca de 30 dias no território, a menina disse ao conselheiro que ficava nos acampamentos dos garimpeiros e via muita gente armada. A ação da PF na abordagem do barco em que ela estava teve a participação do Ibama, Forças Armadas, Força Nacional de Segurança Pública, Funai e PRF.

Com informações do G1

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