Após três meses nos Estados Unidos, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) retornou ao Brasil na manhã desta quinta-feira (30). O voo comercial saiu de Orlando, na Flórida, e pousou no Aeroporto Internacional de Brasília às 6h40.
Havia algo próximo a uma centena de apoiadores aguardando a chegada de Bolsonaro no saguão, mas, por orientação de segurança da Polícia Federal, ele utilizou uma saída alternativa do aeroporto. De lá, seguiu para a sede do PL, onde foi recebido por correligionários e aliados aos gritos de “o capitão voltou”.
Ao entrar de carro pela garagem do prédio, ele acenou rapidamente e, quando indagado por jornalistas sobre liderar a oposição, levantou o vidro do veículo, que seguiu para entrar na sede da legenda. Pouco depois, já dentro do prédio, acenou de uma janela aos apoiadores que estavam do lado de fora com bandeiras de Brasil e saudando-o com gritos de “mito”.
Em imagens cedidas pela legenda, é possível ver Bolsonaro cumprimentando os ex-ministros e agora deputados Ricardo Salles (PL-SP) e Eduardo Pazuello (PL-RJ), além dos senadores Ciro Nogueira (PP-PI), que foi ministro da Casa Civil de seu governo, e Esperidião Amin (PP-SC).
Antes de deixar os EUA, Bolsonaro disse em entrevista ao canal de televisão CNN Brasil que não irá liderar “nenhuma oposição”, afirmou que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é “uma oposição por si só” e negou qualquer irregularidade no recebimento de joias como presente do governo da Arábia Saudita − episódio que está sob investigação.
“Vou participar com meu partido, como uma pessoa experiente, 28 anos de Câmara, quatro de presidente, dois de vereador e 15 de Exército, para colaborar com o que eles desejarem, como a gente pode se apresentar para manter o que tiver de ser mantido e mudar o que tiver de ser mudado”, disse.
Para analistas políticos, o retorno de Bolsonaro ao Brasil deve marcar um novo momento para a oposição e um teste importante para o governo de Lula em um momento desafiador para sua gestão.
Apesar da derrota nas últimas eleições para o Palácio do Planalto, Bolsonaro segue visto como protagonista no processo político nacional e, da capital federal, poderá ter melhores condições de organizar ações e narrativas contra a atual administração, a despeito do noticiário recente desfavorável.
No PL, o presidente Valdemar Costa Neto, já confirmou que Bolsonaro será aclamado presidente de honra da sigla, com salário de R$ 41,6 mil a partir de abril – o equivalente ao teto do serviço público, recebido por ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Apesar de seu berço político ser o Rio de Janeiro, o ex-presidente decidiu morar em Brasília neste momento.
A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro já foi empossada, na semana passada, como presidente do braço interno do PL voltado às mulheres.
O partido mira as eleições municipais de 2024, com a intenção de repetir o bom desempenho do pleito do ano passado, quando elegeu as maiores bancadas na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, além de ter batido na trave na disputa presidencial, com uma derrota por apenas 2,13 milhões de votos, no pleito mais acirrado da Nova República.
Segundo Valdemar Costa Neto, o partido tem como meta sair dos pouco mais de 300 prefeitos que tem hoje para mais de 1.000 nas próximas eleições.
Bolsonaro deixou o Brasil em 30 de dezembro, quando ainda era presidente da República, para não ter que cumprir o protocolo de passagem da faixa presidencial a Lula. Desde então, submergiu, reduzindo seu nível de exposição pública, e passou a ser cobrado por aliados para comandar a oposição ao governo.
Investigações
Sem a blindagem do foro privilegiado, o que o deixa mais vulnerável juridicamente a buscas e apreensão e até mesmo uma ordem de prisão, Bolsonaro é alvo de quatro inquéritos além da investigação dos ataques contra os Três Poderes em 8 de janeiro, que relembraram a invasão ao Capitólio, sede do Congresso nos Estados Unidos, em 2021.
Além disso, tem no encalço também o caso envolvendo os presentes milionários dados pelo governo saudita. Formalmente, segundo a Polícia Federal, Bolsonaro e Michelle não são investigados pela corporação no inquérito que apura as joias ofertadas ao ex-presidente.
Um primeiro lote dos presentes ficou retido no Aeroporto de Guarulhos e o segundo pacote ele chegou a ficar com Bolsonaro, mas depois a sua defesa entregou às autoridades brasileiras por determinação do Tribunal de Contas da União (TCU).
Dois dias atrás, surgiu um terceiro lote de presentes e sua defesa disse que está registrado em acervo e será submetido à auditoria do TCU. Esta outra caixa, guardada na fazenda do ex-piloto Nelson Piquet, continha relógio da marca Rolex, caneta da marca Chopard, abotoaduras em ouro branco e outros itens avaliados em R$ 500 mil.
Aliados se preocupam com o depoimento de Bolsonaro nesta e em outras investigações criminais a que responde perante o Supremo Tribunal Federal (STF) desde a época em que era presidente e que devem descer ou já desceram para a primeira instância. Mas avaliam que juridicamente não há motivos para ele ser alvo de uma ordem de prisão no curto prazo em quaisquer dos casos.
No Tribunal Superior Eleitoral (TSE), há 16 ações em tramitação contra Bolsonaro que podem cassar seus direitos políticos e torná-lo inelegível na próxima disputa pelo Palácio do Planalto, em 2026.