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Filme perdido de Silvino Santos é exibido pela primeira vez no Teatro Amazonas

Após quase 100 anos desaparecida a obra foi encontrada este ano na República Tcheca
Foto: Divulgação

Manaus (AM) — Às vésperas de completar 127 anos, o Teatro Amazonas encerra sua programação de 2023 em grande estilo, com a exibição do filme “Amazonas, o maior rio do mundo”, do cineasta Silvino Santos, nesta sexta-feira (29/12), às 20h, com entrada gratuita.

A obra havia sido dada como perdida desde a década de 30 do século passado, o que confere uma aura ainda mais especial à sua projeção no Teatro Amazonas. O filme foi encontrado recentemente, na Cinemateca de Praga, na República Tcheca.

Filmada em 1918, a obra foi rodada no Pará, Amazonas e na região do oriente Peruano e mostra uma viagem fluvial pelo rio Amazonas, focalizando localidades como Belém, campos do Marajó, Santarém, Itacoatiara, Manaus e rio Putumayo.  

Após aproximadamente dez anos de exibição em vários países da Europa, o filme foi dado como perdido. A confirmação da identidade da obra, ao ser reencontrada este ano, teve a pesquisa de doutoramento do amazonense Sávio Stoco na Universidade Federal do Pará como peça fundamental.

“Em fevereiro deste ano, o curador inglês Jay Weissberg, responsável pelo Festival de Cinema Silencioso de Pordenone (Itália), entrou em contato para eu avaliar alguns filmes sul americanos que localizaram no acervo da Cinemateca de Praga, onde ele fez uma prospecção para organizar a programação deste ano”, conta Sávio Stoco. 

Segundo Stoco, um dos era o mais importante, longa metragem, em ótimas condições de preservação e com narrativa muito atrativa – há muitos anos uma incógnita entre os curadores de Praga. 

“Jay desconfiou ser o mítico filme perdido de Silvino Santos, ‘Amazonas, maior rio do mundo’, pela semelhança com algumas sequências conhecidas de ‘No paiz das Amazonas’”, afirma o pesquisador. 

De acordo com o amazonense, a suspeita de que se tratava da obra perdida se deu também porque Jay Weissberg fez uma pesquisa prévia por registros brasileiros sobre Silvino Santos. 

“Ele localizou minha tese de doutoramento em que eu elaborei um capítulo específico sobre esse filme, com mais de 130 imagens e muitas fontes de descrição textual – inéditas até então. Eu assisti e reconheci nesse filme, todas as imagens, descrições e dados, comparando com a pesquisa que fiz, defendida em 2019”, conta Sávio Stoco. 

No entanto, conta Stoco, os intertítulos estavam em tcheco e o título traduzido equivale a “As maravilhas do Amazonas”, sem menção alguma ao diretor ou país produtor. “Passamos alguns meses analisando com muito cuidado, eu e ele. Mesmo a troca de título estava explicada em minha pesquisa. E os intertítulos em tcheco se explicam, pois a cada país onde o filme passou, houve necessidade dessa tradução, na época”, relata.

‘Ideia maravilhosa’

“Maravilhosa essa ideia!”, afirma Sávio Stoco ao ser indagado sobre sua opinião acerca da exibição do filme no Teatro Amazonas. “Claro que todas as sessões realizadas até então foram muito importantes para a consolidação crítica do significado dessa descoberta”, diz. 

O pesquisador elenca os locais onde o filme já foi exibido após sua redescoberta: pela sessão em Pordenone (Itália), República Tcheca, São Paulo (Cinemateca Braisleira), João Pessoa (Fest Aruanda), Belém (MIS-PA), Rio de Janeiro e Fortaleza. 

“Sempre com muito público e debates importantes. Mas foi em Manaus a cidade onde o filme foi pensado por Silvino e produzido durante cerca de três anos. E o Teatro Amazonas em si é um verdadeiro museu, farol iconográfico para todos os artistas do tempo de Silvino, inclusive para o próprio”, afirma Stoco. 

“Em minha tese, apresento uma pintura pertencente a neta Evanize Kaneko em que Silvino, que também foi pintor, reproduziu o painel As Garças, um dos que decoram o Salão Nobre do Teatro Amazonas”, conta, lembrando também que há uma linda sequência de garças e pássaros amazônicos no filme. 

“Silvino possui essa qualidade de evocar toda a tradição visual amazônica em seus filmes e o Teatro Amazonas é um monumento máximo para essa tradição, sem dúvida”, conclui Sávio Stoco.

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