Manaus (AM) — ‘Cabaré Chinelo’ e ‘Sebastião’, do Ateliê 23, voltam ao Teatro Gebes Medeiros (Avenida Eduardo Ribeiro, 937, Centro), neste fim de semana, para as últimas apresentações do ano. A entrada custa R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia-entrada), no perfil da companhia amazonense no Instagram (@atelie23) e no site shopingressos.com.br.
Os bilhetes on-line para “Cabaré Chinelo” estão esgotados, mas, no dia das apresentações, os ingressos estão disponíveis na bilheteria do teatro, uma hora antes do início da peça.
Na sexta-feira (27/12), às 18h e 20h30, tem Mulata, Balbina, Antonieta, Soulanger, Laura, Joana, Luiza, Felícia, Enedina, Sarah, Emiliana, Maria e a verdadeira história da Belle Époque amazonense em “Cabaré Chinelo”. A obra propõe uma imersão no período entre 1900 e 1920, nas dependências do Hotel Cassina – onde atualmente fica o Casarão da Inovação Cassina – e mostra a exploração e a violência vivida por mulheres obrigadas a se prostituir na época da borracha no Amazonas.
“A oportunidade de estar no ‘Cabaré Chinelo’ é a realização de um sonho até hoje difícil de acreditar. Fui espectadora dessa obra desde a estreia, acompanhei todo o crescimento de alcance de público e sempre fui uma fã que admirava timidamente, com o desejo de estar junto. Hoje, interpreto Emiliana Mattos Guimarães, uma mulher religiosa que perdeu o marido e ‘virou coisa desse mundo’, como a mesma diz no espetáculo”, afirma a atriz Emily Danali, que passou a integrar o elenco em fevereiro deste ano.
Emily Danali explica que seu enredo é carregado de violências causadas por homens que se diziam fiéis a Deus, porém, em meio a tanta hipocrisia, desejavam estar com a bíblia ao mesmo que agrediam sexualmente as mulheres, com a falsa ideia de que assim não iriam pecar.
“O ‘Cabaré Chinelo’ é importante porque resgata a existência destas mulheres que tiveram sua dignidade excluída e que sofreram uma grande tentativa de apagamento em meio a ‘prosperidade’ da Belle Époque. Esta época da nossa cidade está longe de ser bela e não podemos deixar isso ser esquecido”, reforça a artista.
O projeto, em parceria com a companhia de teatro argentina García Sathicq, tem apoio do Governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), além da Fundação Nacional de Artes (Funarte) e Fondo de Ayudas para las Artes Escénicas Iberoamericanas – IBERESCENA.
Sebastião
No sábado (28/12) é a vez de “Sebastião” se despedir de 2024, também com sessões às 18h e 20h30. O público é recebido por sete drag queens que trazem memórias da década de 70, direto do Bar Patrícia, o primeiro reduto gay em Manaus, localizado na Avenida Constantino Nery.
Sebastiane, Lady Sinty, Little Drag, Vênus, Angel, Carmencita e Chica destacam situações inspiradas no livro “Um Bar Chamado Patrícia”, do estilista Bosco Fonseca, experiências como homens gays e temas como homofobia entre outros diferentes tipos de violência vividos pela comunidade LGBTQIAPN+.
Registros como a morte do ativista Adamor Guedes, assassinado em casa com uma facada no pescoço no ano de 2005; e do menino Alex, de oito anos, espancado pelo pai até a morte por ser “afeminado”; compõem a lista de violência.
Público
Letícia Pirangy acompanha o trabalho do Ateliê 23 desde a última semana de apresentações de “Cabaré Chinelo”, no ano de 2022. Para ela, “Sebastião”, peça que assistiu quatro vezes, foi uma das experiências mais marcantes que já teve.
“Senti um misto de emoções tão forte que parecia impossível não voltar para assistir de novo. Eu não sabia se ria, se chorava ou simplesmente me afundava nas mil e uma reflexões e interrogações que pairavam sobre tudo o que eu tinha visto e escutado”, detalha Letícia Pirangy.
“O que mais me impactou foi a maneira como a peça conecta a história dos personagens à figura de São Sebastião. Comparar a luta da comunidade LBGTQIAPN+ à resistência do santo, que também enfrentou perseguição e dor, foi uma sacada genial. Essa simbologia trouxe ainda mais força ao enredo”, completa.
Segundo Letícia Pirangy, o que realmente faz a peça ser tão importante é a sua relevância para os dias de hoje, uma vez que não fala só de um passado de repressão, mas também escancara as questões e os conflitos que a comunidade LGBTQIAPN+ ainda precisa enfrentar.
“É impossível assistir e não refletir sobre o quanto a sociedade ainda precisa avançar, e o quanto essas histórias de luta e resistência precisam ser ouvidas e compreendidas. É uma obra que mexe com a gente, é um grito de resistência, de amor e esperança, um convite para olhar para o outro com mais humanidade e a certeza de que a arte tem a capacidade de transformar nossa percepção do mundo”, comenta Letícia Pirangy.
“Sebastião” é uma realização do Ateliê 23, com apoio do Itaú Cultural, através do Programa Rumos, do Governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa e da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), e Ministério da Cultura, via Fundação Nacional de Artes (Funarte).