Manacapuru (AM) – O cenário Beiradão Amazônico, traduzido em cores, elementos e personagens tomou a arena do Parque do Ingá na apresentação da Flor Matizada, agremiação que deu início ao 25º Festival de Cirandas de Manacapuru (distante a 68 quilômetros de Manaus). Defendendo o tema Muricariuas, figura lendária que na etnia Sateré Mawé significa “Feiticeiro das Águas”, a lilás e branco, abriu passagem e saiu em busca do título de campeã de 2023.
A presidente da Flor Matizada, Vanessa Mendonça, momentos antes da apresentação, compartilhou a expectativa. “Confio muito no nosso trabalho, confio na nossa paixão pela Flor Matizada com certeza será uma grandiosa apresentação e vamos emocionar muito esse público”, disse. E ela acertou. A torcida Família Matizada (Fama) respondeu, vibrou e interagiu.
A representatividade amazônica foi impressa no cenário do artista parintinense Carlos Pizano, que atendendo a temática, apostou na imponente samaumeira de 19 metros de altura, como ponto central do módulo. Em cena, os cirandeiros conduziram a história do resgate do coração da “mãe das árvores”, roubado pelos Muricariuas e, para isso, os seres e personagens da floresta foram convocados.
De acordo com Gaspar Fernandes, autor da temática, a narrativa é uma crítica ao avanço da inteligência artificial desfalcada de consciência e os riscos à vida humana. “A gente aliou essa problemática atual com o cotidiano amazônico, que é rico e espetacular por si só. É um olhar etnográfico de um problema mundial, mas é como se a Amazônia falasse por si, não esperando que ninguém mais fale por ela”, disse Gaspar, também diretor cultural da Matizada.
Com um Cordão de Entrada de 40 integrantes e o Cordão de Cirandeiros formado por 60 pares, itens e personagens folclóricos, conduziram a apresentação ao longo de 2h16, ao som da Banda Lilás. Entre as surpresas, a estreia de Patrick Araújo, levantador oficial de toadas do boi-bumbá Caprichoso, como Cantador de Cirandadas. “Minha primeira vez, estou muito feliz de receber esse convite da Flor Matizada neste belíssimo espetáculo. É uma emoção muito grande estar aqui, espero participar mais e mais e contribuir como a cultura manacapuruense, a cultura do nosso estado”, revela o artista.
Cultura e economia
A primeira noite reuniu um público de 10 mil pessoas no Cirandódromo, para prestigiar o festival, promovido pelas cirandas (Flor Matizada, Guerreiros Mura e Tradicional), com apoio do Governo do Estado, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa e da Prefeitura de Manacapuru. Segundo o secretário de Cultura, Marcos Apolo Muniz, mais que a cultura, o evento fortalece a economia do estado.
“Muitos profissionais atuam nas cirandas dependem da execução desse evento para que possam fazer seus trabalhos, como pintores, artesãos, serralheiros, costureiras, os próprios brincantes, músicos e toda economia que é movimentada, com o comércio aquecido, a partir da realização do evento”, assegura o secretário.
“Temos a adesão do público que vem torcer pela sua ciranda, mas acima de tudo prestigiar a cultura do nosso estado. O Governo Wilson Lima faz esse trabalho de motivar e fomentar para que as cirandas cheguem a esse lugar, mas também trabalha a estrutura técnica, operacional de segurança pública, trânsito, saúde, a parte social para que venham pra cá, prestigiem o seu grupo folclórico e aproveitem o município”, finaliza Apolo.
Palco Alternativo
A festa seguiu madrugada adentro, com shows de atrações musicais no palco alternativo, montado no estacionamento da Rodoviária de Manacapuru. Artistas locais e de Manaus, se revezaram e seguraram o público até às 5h. O cantor manacapuruense, Dieguinho Damasceno, apostou no repertório versátil, marca registrada do artista.
“É uma grande felicidade, eu que nunca participei de um evento de governo, estou muito feliz por ser da casa, da terra e ter essa oportunidade”, revela o cantor com oito anos de carreira e apresentações em festas folclóricas no interior do estado. Na sequência, subiu ao palco, Mikael e Banda e, encerrando a programação, Xiado da Xinela.