“Vi isso como a oportunidade da minha vida.” Foi assim que uma estudante de administração da Unicamp encarou a aprovação na universidade. Aluna de escola pública desde criança, Dayane Silva, de 22 anos, cresceu sem muitas perspectivas, mas a educação foi transformadora, e a jovem agora se prepara para apresentar seu projeto em uma conferência de negócios na Polônia.
Moradora de Sumaré (SP) desde o nascimento, Dayane foi uma das 150 estudantes do mundo a ter a ideia aprovada na Semana Global de Negócios da X-Culture, uma entidade sem fins lucrativos que reúne empresas, estudantes e universidades de vários países do mundo.
Cerca de 6 mil alunos de 170 universidades espalhadas por 50 países participam do X-Culture a cada semestre, mas apenas 150 vão para a conferência. O projeto da jovem, junto com estudantes de outros três países, propôs ideias para uma empresa têxtil de Blumenau (SC), participante do projeto, explorar novos mercados.
A conferência da Semana Global de Negócios da X-Culture começa no dia 12 de julho em uma universidade em Lublin, na Polônia. A Unicamp não vai custear a ida da representante até lá, por isso, Dayane tenta levantar recursos para pagar a hospedagem e as passagens. Entenda melhor abaixo.
Falta de perspectivas
A trajetória de Dayane parece comum a muitos jovens. Embora os pais não tivessem chegado à universidade, eles sempre incentivaram e ajudaram muito a filha nos estudos.
Uma escola particular não era uma opção por questões financeiras, mas o incentivo fez a filha se dedicar aos estudos desde pequena em escolas públicas municipais e estaduais de Sumaré. Ainda assim, Dayane não via muitas perspectivas.
“Desde muito nova eu nunca tive muita informação sobre mercado de trabalho e sobre oportunidade de estudar porque ninguém da minha família se formou, ninguém nunca ingressou numa universidade. Então, eu nunca tive uma pessoa assim que pudesse me instruir, sabe?”, contou a estudante.
Transformada pelos estudos
Essa realidade começou a ser transformada quando a então adolescente prestou um vestibulinho (processo seletivo) para estudar o ensino médio na Escola Técnica Municipal Dr. Leandro Franceschini, de Sumaré.
Ela foi aprovada e, além de um ensino mais voltado à preparação para vestibulares e da troca com colegas, Dayane teve a oportunidade de trabalhar como jovem aprendiz em uma empresa multinacional.
“Foi como menor aprendiz que eu comecei a aprender mais sobre o mundo de trabalho, sobre as oportunidades. Então assim que eu comecei a fazer um curso de inglês, porque meus pais não tinham condições de pagar, então só assim eu consegui fazer”, explicou.
A ideia inicial de Dayane era fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e tentar uma bolsa do Programa Universidade Para Todos (Prouni), que oferece bolsas em universidades privadas. Mas a Unicamp surgiu no radar da jovem a partir de um namorado.
“Ele [namorado] falou que a faculdade [Unicamp] era pública, então se você prestasse vestibular, era de graça e em Campinas. Então, era perfeito para mim. Só que Unicamp a gente só ouvia na televisão coisas tipo muito fantásticas sobre a faculdade. Eu pensava assim: ‘com o meu histórico, eu vou conseguir passar'”?, lembra.
A estudante tentou então as duas frentes, Enem e vestibular, e foi aprovada nos dois. Ela chegou a agendar a matrícula do Prouni, quando chegou a aprovação no curso de Administração da Unicamp em 2020. “Foi uma festa, né?”, brincou.
Estudos na Unicamp
Dayane estuda na Faculdade de Ciência Aplicadas (FCA) da Unicamp, em Limeira (SP). No início teve a pandemia e, com isso, o estudo remoto. Desde 2022, com as aulas presenciais, ela não teve condições de se mudar para a cidade, por isso, faz o trajeto diariamente de van. A distância entre as duas cidades é de aproximadamente 40 quilômetros, mas isso não foi, nem de perto, um problema.
“Assim que eu entrei na Unicamp vi isso como a oportunidade da minha vida e eu decidi que ia me dedicar ao máximo para ser uma boa aluna para que mais oportunidade aparecessem para mim”, contou.
A partir disso, a jovem passou a fazer parte de uma organização estudantil e se envolver nas atividades da Unicamp, o que, segundo ela, foi fundamental para o amadurecimento. Mas foi em uma disciplina de marketing que a estudante esbarrou em um projeto que envolve estudantes e empresas de mais de 40 países do mundo.
Nesse projeto, universitários de todo o mundo criam projetos e ideias para resolver problemas de empresas reais. O grupo dela é composto por dois americanos, um egípcio e um vietnamita. O grupo então escolheu uma empresa brasileira do ramo têxtil, que fica em Blumenau e fabrica roupas para grandes empresas de varejo.
A ideia foi avançando, e, diante das avaliações positivas, o projeto dela foi pré-selecionado. Dayane então se inscreveu na Semanal Global de Negócios, que reúne os melhores projetos do mundo. Neste mês, veio a sonhada resposta: ela foi aprovada para ser uma das representantes do Brasil na conferência.
“Eu não estava esperando por isso. Assim como eu acreditava lá atrás que tudo isso era muito distante, como de apenas 150 estudantes do mundo, eu seria selecionada?”, enfatiza.
Vaquinha para viagem
Em anos anteriores, a Unicamp custeava a viagem do representante da universidade, mas neste ano isso não vai acontecer, segundo a estudante, por conta de cortes de verba. Por isso, Dayane está em busca de patrocinadores e iniciou uma vaquinha online para arrecadar recursos. A viagem deve custar cerca de R$ 20 mil.
“Eu não posso deixar essa oportunidade passar, eu tenho que, pelo menos, tentar. E é isso que eu estou fazendo. Tô tentando ajuda para realizar isso”, finalizou a estudante.
Fonte: g1