“Mudança climática está matando tudo”, afirma Davi Kopenawa em palestra no Inpa

(Foto: Fernanda Reis/Ascom Inpa)

Manaus (AM) – Líder espiritual e político dos Yanomami, Davi Kopenawa ecoou sua voz em Manaus nesta quarta-feira (21) em defesa da floresta amazônica, dos modos de vida tradicional dos povos originários e da vida. Em palestra dos Seminários da Amazônia do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa/MCTI), o xamã pediu a estudantes e pesquisadores para ajudar a minimizar a crise climática e cobrar do poder público “lei forte” contra quem destrói a floresta.

“Vou pedir a força de vocês para cuidar da Amazônia e a cobrar o poder para fazer lei forte para os destruidores respeitarem, caçadores respeitarem. Como a lei está fraquinha, não querem respeitar não”, afirmou Kopenawa. “Vamos criar isso. Vocês vão criar, eu vou criar não. Eu vou continuar defendendo, falando não pode, reclamando com autoridade, que é responsabilidade dela cuidar do nosso país”, completou.

Reconhecido internacionalmente como embaixador dos Yanomami e dos povos originários, Kopenawa reforçou que a crise climática é causada pelas ações do homem, como desmatamento, lixo que se espalha ao redor da cidade e vai parar nas ruas e igarapés, poluição, doenças, cheias e secas extremas. Ele destaca que o impacto da mudança não é ruim só para os seres humanos, mas também para a vida. “A mudança climática está matando tudo: água, terra, a beleza da energia boa, sapo, arara, peixe, frutas, alimento”, disse Kopenawa, que é presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY), criada em 2004. 

Para o diretor do Inpa, o professor Henrique Pereira, a participação de Kopenawa é uma demonstração da gestão de uma instituição aberta ao diálogo, de receber e de construir a ciência na Amazônia para a Amazônia com a participação dos povos originários. “Nós entendemos que a maneira mais certa e segura de alcançarmos o conhecimento mais profundo sobre a região amazônica será com esse diálogo de saberes, com essa construção de um conhecimento e uma produção científica intercultural”, destacou. 

Mais de 250 pessoas foram ao Auditório da Ciência do Inpa para ouvir a palestra de Kopenawa intitulada “Em defesa da floresta e do povo Yanomami, no cenário de mudança climática (vingança da terra-mãe): um chamamento de ativismo”. No fim da fala, o ativista que tem a floresta como a sua universidade foi aplaudido de pé por quase um minuto pelos participantes, muitos dos quais levaram livros de Kopenawa para serem autografados, principalmente A Queda do Céu. 

No início da semana, Kopenawa visitou a Reserva Florestal Adolpho Ducke, a mais antiga base de pesquisa do Inpa, na companhia da pesquisadora do Inpa Noemia Ishikawa e sua equipe para ver de perto estudos com cogumelos amazônicos. Os Yanomami têm um vasto conhecimento sobre a biodiversidade dos cogumelos, suas propriedades e usos como na alimentação e artesanato.  

A Amazônia não é mercadoria

A liderança indígena compartilhou com o público seu modo de pensar e entender o mundo, a importância de lutar pela proteção da floresta, seus povos, modos de vida e suas terras. Também lembrou da necessidade de se ter militantes não brancos na causa e que ficaria feliz de ver mais jovens e mulheres na luta, luta essa por vezes acompanhada de ameaças e perseguições dos que exploram a Amazônia e suas riquezas. 

“A Amazônia não é mercadoria. A riqueza da Amazônia é madeira, biopirataria, remédio medicinal, peixe. Vocês estão aqui olhando esse pedacinho. Vocês já pesquisaram, sonharam, agora têm que defender de verdade, trabalhar, ensinar seus filhos, tem que respeitar a Amazônia”,  disse Kopenawa. 

Com 10,9 milhões de hectares, a Terra Indígena Yanomami é a maior reserva indígena do Brasil e nela vivem aproximadamente 27 mil indígenas. Kopenawa foi uma das principais lideranças na criação da Terra Indígena Yanomami, em 1992, quando se lutava contra o garimpo ilegal, problema muito atual, assim como poluição e mortes causadas por doenças como malária, gripe, disenteria.

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