Por Karla Albuquerque
“Eu me sinto cansada, sobrecarregada e, mesmo assim, culpada quando tento descansar.” Essa é uma fala recorrente entre mulheres que exercem múltiplos papéis — mães, esposas, empresárias, empreendedoras, estudantes, líderes. Parece que nunca é suficiente. O dia tem 24 horas para todos, mas, para muitas mulheres, isso parece um luxo inalcançável.
Ao longo do século XX, a mulher conquistou espaço no mercado de trabalho, o direito ao voto, à liderança, à voz. Hoje, ocupa cadeiras importantes, assume empresas, lidera equipes e ainda administra sua vida pessoal. No entanto, junto com essas conquistas, vieram as sobrecargas. Acordamos cedo, preparamos o café dos filhos, vestimos a roupa de empreendedora, gravamos vídeos para as redes sociais, gerenciamos o negócio, resolvemos pendências da casa, cuidamos da saúde — tudo no mesmo dia. E ainda existe a exigência de sermos boas esposas, filhas, amigas. O resultado? Exaustão física e emocional. E, muitas vezes, a sensação injusta de fracasso por não dar conta de tudo.
De acordo com a pesquisa do Conselho da Mulher Empreendedora e da Cultura (CMEC, 2024), 78% das empreendedoras têm filhos, 69,4% estão em união estável e 66,5% possuem renda domiciliar de até R$ 8.630,07 — sendo que 43,9% são as principais responsáveis por essa renda. E um dado que chama atenção: 95,8% dessas mulheres têm seus negócios dentro de casa. Ou seja, o espaço onde se é mãe e esposa também é onde se trabalha.
Esse cenário exige algo fundamental: gestão do tempo e, principalmente, mudança de comportamento. Como treinadora comportamental e professora universitária, escuto constantemente relatos como: “Mas ele sabe o que tem que fazer, eu não preciso pedir.” Aqui mora o erro — é necessário aprender a delegar de forma consciente, não imaginária. O outro não adivinha. A autora Carolina Prudente chama isso de “delegação imaginária”, e é justamente o que impede muitas mulheres de conseguir ajuda, seja de filhos, maridos ou membros da equipe. O medo de parecer fraca ou incapaz ainda bloqueia esse pedido essencial.
Nos meus treinamentos sobre gestão de tempo, identifico padrões claros: mulheres que não sabem dizer “não”, que tentam agradar a todos e que desconhecem ferramentas básicas de organização como agendas eletrônicas. A pesquisa do CMEC confirma: 27% desconhecem ferramentas de gestão, 62,3% apontam a jornada dupla como principal desafio, seguidos por questões financeiras (36,1%) e insegurança (33,1%).
Não, a tecnologia sozinha não vai salvar o seu tempo. O que salva é o autoconhecimento, a clareza sobre prioridades e o compromisso com o que se planeja. A mudança começa em nós, nas nossas escolhas diárias, na forma como comunicamos e organizamos nossa vida. Isso afeta diretamente nossa produtividade e, sobretudo, nosso equilíbrio emocional, familiar e profissional.
Ser mulher no século XXI é um feito poderoso, mas também exige coragem para dizer “não”, pedir ajuda, delegar, respirar e reconhecer que produtividade não é sinônimo de exaustão. Não precisamos dar conta de tudo, só daquilo que realmente importa.
Karla Andréia B. S. de Albuquerque, Administradora, Mestre em Turismo e Hotelaria, Especialista em Gestão de Pessoas e Desenvolvimento de Equipes, é coordenadora dos cursos da área de Negócios da Wyden.