A Fox News decidiu nesta terça-feira (18/4) aceitar um acordo para encerrar um processo em que é acusada de ter difamado a empresa de urnas eletrônicas Dominion durante as eleições presidenciais dos Estados Unidos em 2020.
Em um acordo de última hora antes do julgamento começar, a rede de TV americana concordou em pagar US$ 787,5 milhões (cerca de R$ 3,9 bi) à Dominion — aproximadamente metade do US$ 1,6 bilhão que a empresa de urnas eletrônicas havia pedido inicialmente.
A Dominion argumentou que seus negócios foram prejudicados pela Fox, que publicou falsas alegações de que a eleição havia sido fraudada em desfavor de Donald Trump.
O acordo evitará que executivos da Fox, como Rupert Murdoch, precisem testemunhar.
Em um comunicado, a Fox disse que o acordo reflete seu “compromisso com os mais altos padrões jornalísticos”.
O presidente da Dominion, John Poulos, disse em entrevista coletiva que o acordo fez a Fox “admitir ter contado mentiras, o que causou enormes danos à minha empresa”.
Justin Nelson, advogado do Dominion, disse a jornalistas que “a verdade importa”.
“Mentiras têm consequências”, acrescentou.
“Mais de dois anos atrás, uma torrente de mentiras varreu a Dominion e os funcionários eleitorais em toda a América para um universo alternativo de teorias da conspiração, causando danos graves à Dominion e ao país.”
Nelson acrescentou que, para que “a democracia perdure”, os americanos devem “compartilhar do compromisso com os fatos”.
A apresentação inicial dos argumentos no processo judicial começaria na tarde dessa terça-feira.
Antes do acordo, os advogados da Fox se opuseram repetidamente aos US$ 1,6 bilhão em danos que a Dominion estava pedindo — e caracterizaram o valor como excessivamente alto.
Além da situação relativa à Dominion, a Fox enfrenta um segundo processo semelhante por difamação contra outra empresa de tecnologia eleitoral, a Smartmatic, que pede US$ 2,7 bilhões (mais de R$ 13 bilhões).
A Dominion também sinalizou a intenção de continuar tomando medidas legais contra outras partes.
O advogado da empresa, Stephen Shackelford, disse a repórteres que “ainda não está feito”.
“Temos algumas outras pessoas que têm alguma responsabilidade vindo em sua direção”, disse ele.
A Dominion já tem processos contra duas redes de notícias conservadoras, a OAN e a Newsmax, e contra aliados de Trump, como Rudy Giuliani, Sidney Powell e Mike Lindell.
Como a Fox sai do caso?
Evidências coletadas durante as investigações sugerem que vários executivos e jornalistas da Fox questionaram, privadamente, as acusações conspiratórias de que a eleição havia sido fraudada — mas, mesmo assim, as colocaram no ar.
Em uma série de mensagens de texto, o famoso apresentador Tucker Carlson disse que algumas das acusações eram “absurdas” e “insanas”, enquanto outro apresentador, Sean Hannity, disse em particular que não acreditava nelas “nem por um segundo”.
A Fox disse que essas palavras foram tiradas do contexto.
Antes do julgamento, o juiz Eric Davis já havia indicado que as alegações contra a Dominion eram comprovadamente falsas.
Apesar da enorme quantia desembolsada, especialistas em direito entrevistados pela BBC avaliam que o acordo foi, em geral, um resultado positivo para a Fox.
“Olhando para um julgamento de seis semanas, isso seria cansativo para todos os envolvidos e provavelmente embaraçoso para a Fox”, avalia Roy Gutterman, professor da Universidade de Syracuse e especialista na Primeira Emenda.
“Um veredicto contra a Fox poderia ter sido ainda mais caro e terias sérias implicações nas decisões subsequentes.”
A advogada Michelle Simpson Tuegel, especialista em litígios civis, disse à BBC que o acordo reflete “a enorme ameaça que a Fox viu neste processo”.
“É difícil dizer o quão prejudicial uma decisão contra a Fox teria sido para a empresa além do custo financeiro do veredicto, porque seu público é muito leal”, disse ela.
“Mas o dano à reputação de ter executivos, incluindo o presidente Rupert Murdoch, e anfitriões depondo parece ter levado as partes a uma resolução”, acrescentou Tuegel.
Fonte: BBC NEWS BRASIL