Manaus (AM) – O movimento de uma das melhores datas comerciais – a Black Friday, que neste ano será no dia 29 de novembro – está ameaçado por uma questão natural: a seca mais severa dos últimos tempos. No domingo (6/10), o rio Negro atingiu 12,40 m de profundidade, seu nível mais baixo em 122 anos de medição em Manaus.
Desde a última quinta-feira (3/10), a marca recuou 28 cm e diminuiu ainda mais, por causa da falta de previsão de chuva para a região amazônica. A estiagem prejudica diretamente o escoamento da produção da Zona Franca de Manaus (ZFM), onde 95% do transporte de produtos é fluvial.
Conforme a Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), estima-se que 100% da produção nacional de ar-condicionado, televisores, lavadoras de louça e micro-ondas – alguns dos itens mais vendidos na Black Friday – venha da Zona Franca. No entanto, a seca dos rios atrapalha a logística de mercadorias, uma vez que as águas baixam de nível, obrigando as embarcações a navegarem mais leves, ou seja, com menos carga, o que também acaba encarecendo o frete.
O professor de Estratégia de Mercado e Visão Sistêmica e Dinâmica dos Negócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Eduardo Maróstica explica que os reflexos poderão ser para além da data comercial de novembro. “A seca vai impactar de maneira significativa. E como não há previsão em curto prazo para uma melhora dos índices do rio Negro, o Natal e a Cyber Monday – na segunda-feira seguinte a Black Friday – também vão ser comprometidas de forma considerável pela ausência de chuvas na região.”
Sobrecusto
O período de seca na Amazônia, normalmente entre maio e setembro, prejudica a logística de mercadorias na região. No ano passado, segundo o Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam), a crise gerou um sobrecusto de R$ 1,4 bilhão para a indústria em relação a logística e transporte.
Para este ano, a expectativa também não é positiva, conforme explica o coordenador da comissão de logística do Cieam Augusto Cesar Rocha.”Neste ano, a gente já tem uma estimativa de sobrecusto da ordem de R$ 500 milhões por causa da seca na região. Isso porque os grandes armadores internacionais estão cobrando uma taxa da seca desde o início de agosto, que é um aditivo para cada contêiner”.
Mitigação de efeitos
Segundo o Cieam, algumas medidas estão sendo tomadas para minimizar os efeitos da seca. As duas maiores estações portuárias que atuam em Manaus, o Porto Chibatão e o Super Terminais, gastaram cada uma mais de R$ 20 milhões para montar emergencialmente dois píeres flutuantes, que funcionarão como balsas para carregar os contêineres dos navios com calados incompatíveis com a profundidade do rio nesta época.
O diretor-executivo da Associação Brasileira de Armadores de Cabotagem (Abac) Luis Resano enfatiza que outra opção para mandar cargas para Manaus, e também retirar outras cargas da cidade, é o Porto de Vila do Conde, no Pará. A distância, contudo, é um obstáculo. “O trânsito de barcaças entre Vila do Conde até Manaus significa quase dez dias de viagem. Então atrasa muito a logística”, ressalta.
Outra medida adotada para mitigar os reflexos da estiagem e evitar o desabastecimento de Manaus foi repassar parte das cargas a outros modais, como o rodoviário e o aéreo.
Fonte: Com informações da Folhapress