Durante o Festival Folclórico de Parintins, que atrai milhares de visitantes ao interior do Amazonas no fim de junho, o calor e a exposição prolongada ao sol são quase tão tradicionais quanto os bois Caprichoso e Garantido. Em meio à celebração cultural, uma preocupação de saúde pública muitas vezes passa despercebida: a proteção da pele contra os efeitos nocivos da radiação solar.
A especialista Josiani Nunes, coordenadora do curso de Saúde da Faculdade Martha Falcão Wyden, alerta que o festival coincide com o chamado “verão amazônico”, período de maior incidência de radiação ultravioleta (UV) e temperaturas elevadas na região. “Por estarmos próximos à linha do Equador, o índice UV atinge níveis extremos, o que torna a exposição solar ainda mais perigosa. É preciso estar consciente de que, sem os devidos cuidados, os danos podem ir muito além de um simples incômodo — envolvem riscos reais à saúde cutânea”, afirma.
A radiação UVA e UVB é apontada como um dos principais agentes causadores de fotoenvelhecimento (manchas, rugas, flacidez), imunossupressão cutânea e, a longo prazo, carcinogênese. Além disso, o clima tropical úmido de Parintins intensifica a transpiração, o que, embora seja um mecanismo fisiológico natural, pode comprometer a integridade da pele. A umidade constante favorece a maceração da barreira cutânea, abrindo espaço para infecções fúngicas e bacterianas, principalmente em áreas de dobra, e agrava quadros como dermatites e foliculites.
A especialista reforça que o cuidado deve começar antes mesmo de sair de casa, com a aplicação de protetor solar de amplo espectro, com fator de proteção 50 ou superior, reaplicado a cada duas horas ou após transpiração excessiva. Chapéus de aba larga, bonés, roupas de algodão com cobertura leve e óculos com proteção UV são indicados como barreiras físicas complementares. “É importante entender que a pele funciona como a primeira linha de defesa do organismo. Quando ela é agredida, abre-se caminho para uma série de complicações”, explica.
Outro ponto de atenção destacado por Josiani é o uso frequente de maquiagens, tintas corporais e adereços típicos do festival. Esses produtos, muitas vezes de longa duração ou com pigmentos intensos, podem conter substâncias alergênicas e dificultam a transpiração natural da pele. Combinados ao calor e à dificuldade de remoção adequada ao fim do dia, esses fatores aumentam o risco de dermatites, acne e obstrução dos poros. A higienização da pele deve ser feita com produtos suaves, como os chamados syndets (sabões sem detergente agressivo), e o uso de hidratantes calmantes após o banho é essencial para restaurar a função da barreira cutânea.
Do ponto de vista fisiológico, a manutenção do estrato córneo — a camada mais externa da pele — é o que garante a integridade da barreira cutânea. Essa estrutura é formada por células mortas (corneócitos) embebidas em uma matriz lipídica, funcionando como uma “parede” contra a perda de água e a entrada de agentes patogênicos. “Quando essa barreira é prejudicada, surgem fissuras microscópicas que facilitam a entrada de microrganismos e a perda de hidratação, desencadeando inflamações ou infecções oportunistas”, detalha a especialista.
Por isso, além da fotoproteção, é fundamental manter uma hidratação adequada, tanto interna, com a ingestão regular de líquidos, quanto externa, por meio de cosméticos específicos. Ingredientes como ceramidas, ácido hialurônico e glicerina ajudam a reforçar a estrutura lipídica da pele e prevenir o ressecamento induzido pelo calor intenso, pelos banhos frequentes e pelo uso de produtos químicos.
A especialista orienta ainda que qualquer sinal de vermelhidão persistente, coceira, inchaço ou surgimento de lesões deve ser motivo de atenção. A intervenção precoce é essencial para evitar que reações simples evoluam para quadros mais sérios, como infecções secundárias ou dermatites de contato.
“Parintins é uma celebração de identidade e emoção. Mas para aproveitar tudo o que a festa tem a oferecer, é fundamental lembrar que o cuidado com o corpo é parte da experiência. A prevenção é sempre o melhor caminho”, conclui Josiani.