O superlaboratório Sirius, acelerador de partículas capaz analisar diversos tipos de materiais em escalas de átomos e moléculas, abriu nova chamada para propostas de pesquisas em suas seis primeiras estações experimentais – a última atraiu interesse de cientistas não só do Brasil, mas também de outros 15 países, como Argentina, Grã-Bretanha, Alemanha e Estados Unidos.
Os interessados têm até 24 de abril para enviar projetos de uso da estrutura instalada no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas (SP).
De acordo com a organização, assim como a chamada anterior, a seleção vai privilegiar o mérito científico, em avaliação por um sistema de revisão por pares com duplo anonimato. O uso do acelerador será agendado para o segundo semestre, entre 2 de agosto e 16 de dezembro.
“O Sirius foi projetado para alavancar pesquisas nas mais diversas áreas, e nós encorajamos a diversidade de ideias”, explica Harry Westfahl Jr., diretor do Laboratório Nacional de Luz Síncroton (LNLS), responsável pela operação do Sirius.
“A abertura regular das primeiras estações de pesquisa do Sirius à comunidade científica foi o marco mais importante do projeto, na minha opinião. Essa chamada pode beneficiar as mais diversas áreas, como biologia, geologia, engenharia, física e química. Para isso, é fundamental defendermos as melhores condições para a ciência do País. Nossos usuários precisam de estrutura em seus laboratórios para fazer perguntas, gerar boas hipóteses, realizar os primeiros testes, para depois virem ao Sirius. É fundamental que tenhamos todo um sistema de ciência e tecnologia muito bem estruturado e, principalmente, investimentos contínuos na formação de recursos humanos para colher bons resultados em um dos equipamentos mais avançados do mundo”, defendeu Antonio José Roque da Silva, diretor-geral do CNPEM.
Não há custos para o uso acadêmico do Sirius. No caso de pesquisadores de instituições brasileiras e estrangeiras que residam em países da América Latina e Caribe, caso tenham propostas aprovadas, estes poderão solicitar auxílio financeiro para a utilização das instalações do Sirius e viagem à Campinas (SP).
Linhas de pesquisa experimentais
- Carnaúba: Linha de micro e nano-fluorescência e espectroscopia de raios-X e pticografia. Realiza análises dos mais diversos materiais nano-estruturados, visando a obtenção de imagens 2D e 3D com resolução nanométrica da composição e estrutura de solos, materiais biológicos e fertilizantes, além de outras investigações nas áreas de ciências ambientais.
- Cateretê: Imagem por difração coerente (pticografia) e espectroscopia de correlação de fótons de raios-X (XPCS). Otimizada para a obtenção de imagens tridimensionais com resolução nanométrica de materiais para as mais diversas aplicações.
- Ipê: Espectroscopia de absorção (XAS) e de fotoelétrons excitados por raios-X (XPS). Essa linha é otimizada para estudar a distribuição dos elétrons em átomos e moléculas presentes em interfaces líquidas, sólidas e gasosas. Permite sondar como as ligações químicas ocorrem nas interfaces de materiais como catalisadores, células eletroquímicas, materiais sujeitos a corrosão, ou ainda como a corrente elétrica se propaga em diferentes materiais, desde isolantes até supercondutores.
- Ema: Difração e espectroscopia de raios X em altas pressões. As técnicas disponíveis nesta linha permitem a investigação de materiais submetidos a condições extremas de temperatura, pressão ou campo magnético. O estudo da matéria nessas condições pode revelar novas propriedades com características que não existem em condições ambientes normais.
- Imbuia: Micro e nano-espectroscopia de infravermelho (FTIR). Esta estação experimental é dedicada a experimentos utilizando a luz infravermelha, que permite a identificação dos grupos funcionais de moléculas e a análise da composição de praticamente qualquer material, com resolução nanométrica.
- Manacá: Micro cristalografia de Macromoléculas (MX). Primeira linha a ficar operacional, está equipada com instrumentos que permitem revelar estruturas tridimensionais de proteínas e enzimas com resoluções atômicas, revelando a posição de cada um dos átomos que compõem uma determinada proteína estudada, suas funções e interações com outras moléculas, como as usadas como princípios ativos de novos medicamentos.
O que é o Sirius?
Principal projeto científico brasileiro, o Sirius é um laboratório de luz síncrotron de 4ª geração, que atua como uma espécie de “raio X superpotente” que analisa diversos tipos de materiais em escalas de átomos e moléculas.
Para observar as estruturas, os cientistas aceleram os elétrons quase na velocidade da luz, fazendo com que percorram o túnel de 500 metros de comprimento 600 mil vezes por segundo. Depois, os elétrons são desviados para uma das estações de pesquisa, ou linhas de luz, para realizar os experimentos.
Esse desvio é realizado com a ajuda de imãs superpotentes, e eles são responsáveis por gerar a luz síncrotron. Apesar de extremamente brilhante, ela é invisível a olho nu. Segundo os cientistas, o feixe é 30 vezes mais fino que o diâmetro de um fio de cabelo.
Fonte: g1