Presidente Figueiredo (AM) — Duas mulheres, 24 e 54, mãe e filha, foram presas por manter dois homens, 57 e 63, em condições análogas à escravidão em um sítio localizado em Presidente Figueiredo, distante 117 quilômetros de Manaus. As prisões foram efetuadas na última terça-feira (19/6), em Manaus, pela Polícia Civil do Amazonas (PC-AM), por meio da Delegacia Especializada em Crimes contra a Pessoa Idosa (DECCI).
De acordo com a delegada Andrea Nascimento, as prisões aconteceram durante a Operação Virtude, que ocorre em alusão à Campanha “Junho Violeta”, voltada à conscientização sobre a violência contra a pessoa idosa. As diligências tiveram como finalidade apurar denúncias, dentre elas, a de um idoso de 63 anos que estava em situação análoga à de escravo em um sítio.
“Ao chegarmos ao local, encontramos o idoso e um homem de 57 anos. Ambos estavam sujos e debilitados, com as mãos e pés calejados pelo trabalho forçado ao qual eram submetidos, além de estarem sem se alimentar. Chegamos ao sítio por volta das 10h e eles ainda não haviam tomado café da manhã”, detalhou a delegada.
Ainda segundo Andrea, foi verificado que o idoso estava no local há cerca de oito anos e não tinha ciência de que recebia benefício do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Os policiais o acompanharam até a agência bancária, onde descobriram um empréstimo de R$ 16 mil realizado em seu nome. O valor foi transferido para a conta da jovem de 24 anos.
Conforme a delegada, estão sendo levantadas informações sobre o empréstimo do valor realizado no dia 28 de março deste ano, bem como seu emprego.
Trabalho análogo à escravidão
A equipe de investigação constatou que a mulher obrigava o idoso a fazer todos os afazeres do sítio, bem como a cuidar de mais de 150 animais, entre porcos, carneiros, perus, pavões, bovinos, coelhos, galinhas, cães, patos, e até animais silvestres, em uma jornada de trabalho exaustiva, sem pagamento de salário. Ele informou que a suspeita também tinha uma residência em Manaus, para onde se deslocava com frequência.
“Em relação ao outro homem de 57 anos encontrado no sítio, verificamos que anteriormente ele era morador de rua e já estava no sítio há cerca de seis meses, desde dezembro de 2023. Ele apresentava sinais de alienação social, pois não se identificava como vítima, acreditando que fazia parte da família devido às idas eventuais à igreja promovidas pelas autoras”, contou Andrea.
O homem estava desempregado quando a mulher ofereceu um salário para que ele fosse trabalhar com ela. Desde então, passou a viver em situação análoga à escravidão naquele sítio, juntamente com o idoso que já estava lá há mais tempo.
“Ambos não recebiam salário, pois a mulher alegava algum tipo de dívida por parte das vítimas. Um deles afirmou que certa vez um pavão fugiu e ele teve que pagar o valor de R$ 5 mil pelo animal. As vítimas dormiam em ambientes inadequados, dividindo o espaço com os animais. Estavam com as mãos e pés machucados, calejados pelo trabalho pesado que realizavam diariamente e apresentavam visíveis debilidades físicas”, informou Andrea.
Procedimentos
Mediante consultas nos Procedimentos Policiais Eletrônicos (PPE), os policiais localizaram mãe e filha em Manaus. Ambas foram conduzidas à sede da DECCI para prestarem esclarecimentos.
Elas responderão por redução à condição análoga à de escravo, supressão de documentos particulares, apropriação de bens ou rendimentos da pessoa idosa, discriminação, desdém, humilhação e menosprezo à pessoa idosa, furto mediante fraude ou abuso de confiança. Ambas ficarão à disposição do Poder Judiciário.