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EUA veem navios de guerra iranianos no Porto do Rio de Janeiro como provocação

Americanos comunicaram ao governo brasileiro que não seria possível realizar a reunião dos presidentes Biden e Lula enquanto estão no espaço marítimo brasileiro; presidente revogou autorização
Navios iranianos
AP Photo / Forças Armadas do Irã

O governo americano vê a presença de dois navios de guerra iranianos no Porto do Rio de Janeiro como uma provocação. Os americanos comunicaram ao governo brasileiro que não seria possível realizar a reunião dos presidentes Joe Biden e Lula, dia 10, ao mesmo tempo em que o porta-helicópteros e a fragata entravam no espaço marítimo brasileiro.

A frase de um funcionário americano foi: “É um tiro no pé”. Lula então adiou a autorização.

Integrantes do governo americano não veem como a presença dos navios pode servir aos interesses brasileiros. Daí o receio de que o objetivo do governo Lula seja provocar uma reação americana.

O Atlântico Sul é uma das únicas regiões do globo em que os EUA não sentem necessidade de fazer projeção naval, por considerarem que não existem ameaças reais. Venezuela, Cuba, Nicarágua etc. não se enquadram nesse nível de preocupação.

A presença dos navios iranianos já levou a uma declaração do senador republicano Ted Cruz em favor de estudar se é o caso de adotar sanções contra entidades brasileiras associadas a esse episódio, como o Porto do Rio de Janeiro e a Marinha do Brasil, que autorizou o atracamento.

A âncora da CNN Daniela Lima apurou que o ex-presidente Jair Bolsonaro levantará o tema no seu discurso desse sábado no CPAC, a conferência de arrecadação dos republicanos conservadores, que terá a presença do ex-presidente Donald Trump.

Bolsonaro teria planos de acusar o governo Lula de apoiar o terrorismo. O Irã está na lista do Departamento de Estado americano de países que patrocinam o terrorismo. No início da semana, o ministro de Assuntos Estratégicos e o conselheiro de Segurança Nacional de Israel estarão em Washington para discutir a resposta à ameaça representada pelo fato de o Irã poder estar próximo de fabricar suas primeiras bombas nucleares.

Diante de todo esse contexto, o governo Biden pode ser pressionado a adotar medidas em resposta à presença dos navios iranianos. Com eleições se aproximando no ano que vem, tudo o que Biden não deseja é ser visto como “fraco com o Irã”, ele que já é condenado pelos republicanos por ser “mole com a China”.

Uma hipótese aventada em Washington é a de que o objetivo final do atual governo brasileiro fosse esse: provocar a mobilização da Marinha americana no Atlântico Sul, como “prova” do “imperialismo americano”. Essa não é uma leitura categórica, mas um receio.

A atual equipe de Biden para relações exteriores, defesa e segurança nacional é a mesma que serviu no governo de Barack Obama, do qual Biden era vice, e que conviveu com o governo Lula, incluindo o então chanceler e agora assessor especial Celso Amorim. Esses funcionários viveram o que foi descrito para mim como “o trauma” da iniciativa de Lula para um acordo nuclear com o Irã.

Em maio de 2010, Lula se juntou ao autocrata turco, Reccep Tayyip Erdogan, e ao então presidente nacionalista e populista iraniano, Mahmud Ahmadinejad, para apresentar uma proposta de solução para a crise nuclear iraniana que não contemplava as preocupações do Ocidente.

O acordo previa que o Irã entregaria 1.200 kg de urânio até então pouco enriquecido para a Turquia. Em troca, receberia 120 kg de urânio enriquecido a 20% para finalidade médica. Não deixava claro quanto sobrava de urânio pouco enriquecido para o Irã.

Lula e seus parceiros argumentaram que o acordo era baseado numa proposta da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Entretanto, quando a AIEA elaborou a proposta, em outubro de 2009, os 1.200 kg representavam dois terços do urânio pouco enriquecido do Irã.

Em maio, já poderia ser metade. Mas não se sabia ao certo. E o Irã continuaria enriquecendo urânio até 20%. Isso violaria as resoluções da ONU (Organização das Nações Unidas).

A proposta da AIEA era que o Irã entregasse 1.200 kg para a França ou a Rússia, dois países naquele momento considerados confiáveis; a Turquia não tinha a mesma credibilidade, porque o governo Erdogan abria brechas para o Irã furar as sanções comerciais contra ele.

A questão dos navios iranianos se soma à forma como o governo Lula tem se projetado no assunto da guerra da Ucrânia. Em princípio, americanos e europeus gostariam muito que o Brasil pudesse exercer um papel produtivo.

Afinal, o país integra atualmente o Conselho de Segurança da ONU e, como membro dos Brics, poderia estabelecer um diálogo com a China e com a Rússia que dificilmente os americanos e europeus conseguiriam.

Entretanto, as declarações de Lula de que “o Brasil é um país que ama a paz”, com variações, ofende americanos e europeus, como se eles quisessem a guerra. A posição de Lula foi descrita para mim como “amadora”, porque ignora que, se não fosse o apoio do Ocidente à Ucrânia, ela seria hoje parte da Rússia, e Vladimir Putin estaria ocupado em planejar novas invasões.

Os americanos lamentam as atitudes brasileiras, mas não estão surpresos, porque conhecem Lula e Celso Amorim. Já os europeus estão desapontados. Especialmente o presidente francês, Emmanuel Macron, que detesta Jair Bolsonaro e acreditou que a eleição de Lula abriria portas para uma cooperação estreita. Isso ainda é verdadeiro no caso da Amazônia, mas não, por exemplo, no da Ucrânia.

Quando Macron tuitou, há um mês, que a base para a negociação da paz era o plano de 10 pontos do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, e marcou Lula no tuíte, estava dando um recado: o plano prevê a retirada total das tropas russas do território ucraniano, o reconhecimento pela Rússia da soberania ucraniana e a criação de um tribunal internacional para julgar os crimes de guerra russos.

Em contraste, o governo brasileiro propõe uma cessação de hostilidades “sem pre-condições”. Isso já foi feito em 2014 e 2015, com os Acordos de Minsk, que serviram de incentivo para Putin invadir de novo, e tentar tomar toda a Ucrânia.

Diante de tudo isso, a avaliação no Ocidente é a de que o Brasil está desperdiçando uma oportunidade para ter uma atuação internacional interessante, e tende a ser visto como um aliado de China e Rússia. Em sua visita a Pequim, no fim do mês, Lula pode confirmar ou desfazer esses receios. Para desfazer, precisaria mudar bastante de atitude.

Fonte: CNN Brasil

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